quarta-feira, 13 de julho de 2011

33 - ADIÓS POETA - Henrique Mendes



Llegará el día que la línea, como una risotada interrumpida,
se quedará inconclusa. Por escribir.
Mas en ese día nada se quedará diferente.
No cambiará el espacio, que seguirá vago,
como siempre lo estará el espacio de los poetas. Disponible.
Y que, a pesar de eso,  seguirá repleto
porque jamás podría quedarse de otra forma
un espacio que la propia ausencia llena y enuncia. 

Y lo que resta en la memoria de los otros
capaz de merecer una cita concreta, reproducible,
una frase lapidaria que ilustre bien una situación,
o que claramente apunte un norte,
será tan importante cuanto ese espacio de ser inmutable,
que nada jamás ha alterado, y que ningún fin terminará. 

Y si nada llegara a cambiar a los ojos de los otros,
si hubiera apenas una vaga sensación de falta,
de cosa indefinible que el cotidiano crudo apagará
habrá aún la memoria de aquellos que un día,
por todo el breve tiempo encantado de un  poema,
volaron más alto y vieron el mundo con otros ojos,
y supieron que ser Poeta es  tener  otra voz
y otra forma de conciencia.
Inmortal, mismo que en silencio.

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32 - MONÓLOGOS NO TUNEL - de Henrique Mendes




Talvez tenha construído demasiado longo
esse túnel feito de palavras.
Esmeradas, escolhidas, polidas como jóias.
Únicas todas elas, raras e tão especiais,
mas um túnel demasiado longo,
sem claridade na saída. Nada.
Nada, a não ser o brilho escuro, familiar,
de mais palavras florindo em momentos,
feições novas de velhos significados revistos,
velhas roupagens puídas cerzidas mais uma vez.


Apenas mais palavras.
Uma espécie de infinito tornado cúmplice,
noite,  penumbra escondendo os outros,
suas dores, mágoas, medos, monstros,
e escondendo-me de quase todos eles,
dando-me o tempo de ainda mais um poema,
jamais singular e  jamais definitivo
como desejaria que fosse.
Mas Jamais apenas  um poema feito de luz,
maior que apenas um monólogo incontido
mostrando-se além da prudência
que o tempo trouxe ...
E,  inevitavelmente,
jamais apenas  algo que me colocasse
além das simples palavras.
Monólogos no meio do túnel.

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domingo, 22 de maio de 2011

31 - ENTREVISTANDO JOÃO DE SOUSA TEIXEIRA - FINAL




Por entre textos e comentários, imagino já esteja mais ou menos bem delineada uma imagem do meu convidado. E foi isso que objetivei fazer, não através duma entrevista comum, convencional, mas sim através de uma exposição parcial, calculadamente lenta, que ocorresse aos poucos e de uma forma que permitisse a quem lesse sentir melhor quem é o meu convidado, além e aquém da sua obra.

Ainda nesta perspectiva e como último contributo, agrego a carta que me escreveu , e que contém em si mesma pequenas histórias inéditas, a respeito do seu relacionamento com alguns dos escritores portugueses mais relevantes, alguns dos quais tive a oportunidade de conhecer e admirar pessoalmente. Mais do que isso, é um pequeno retrato de uma época, que seria encantadora se não fosse dramáticamente ensombrada pela ditadura. Agrego igualmente fotocópia do ultimo fax trocado com Saramago, cumprimentando-o pelo Nobel.

Aqui fica a reprodução da carta, e, junto com ela, o meu imenso obrigado ao João:


"Se bem entendo, o Henrique quer que lhe fale da minha vida, como dizia o outro, já que as notícias sobre a minha morte foram um pouco exageradas…
...
Em 1973, o Jornal do Fundão organizou um evento a que chamou, salvo erro, Encontro de Teatro. O objectivo era romper o bloqueio cultural em que vivíamos naquela época. Além do fórum propriamente dito, sediado no Fundão, havia os convidados ilustres que rapidamente se deslocavam até Castelo Branco, no intuito de prolongarem o espaço de convívio e de tertúlia.

José Saramago, Alexandre Babo, Jaime Gralheiro, Bernardo Santareno, Isabel da Nobrega, foram alguns dos autores que durante dias circularam pela nossa terra.

Eu tinha editado o meu primeiro livro de poemas (Ro(s)tos do Meu País), que era um livrito de vinte e poucos poemas, mas muito bem cuidado graficamente pelo meu amigo Ambrósio Ferreira. E tão recente tinha sido a edição que ainda constava nos escaparates das livrarias e, em exclusividade, em duas montras das duas principais livrarias da cidade.

À noite, depois do emprego, lá ia eu ter com aquela gente maravilhosa…

Uma tarde, passeava com o Bernardo Santareno e, levei-o junto à montra da já extinta livraria Elias Garcia e apontei-lhe a minha “obra” exposta e decorada com uma enorme jarra de rosas vermelhas… O Dramaturgo olhou, olhou, recolocou aqueles enormes óculos que tinha e, por fim, colocou-me a mão no ombro, dizendo em jeito de confidência: - Falta aqui uma coisa, João…

Eu, muito atrapalhado, pois se para mim a montra estava tão bonita e … tão completa… Então ele esclareceu: - Falta aqui a tua fotografia, e esclareceu: - As pessoas passam, olham, vêem a obra e depois perguntam: quem será o autor? Se lá estivesse a tua fotografia já não fariam tal pergunta e imediatamente associavam as coisas. Isso é muito importante, concluiu.

Ficamos amigos até à sua morte.

Na pastelaria, em mesa redonda, falava-se do Encontro do Fundão, das coisas da política, dos jornais, enfim, de tudo um pouco. José Saramago, a dado momento pediu a todos um minuto de atenção e disse: - temos connosco um jovem poeta, aqui nascido, que acabou de editar um livro de poemas com muito interesse. Corei. Parecia que o chão se afundava… Mas todos os presentes quiseram comprar o “célebre livro”, que então custava doze escudos e cinquenta centavos.

Quando por fim terminou a sua permanência em Castelo Branco, pedi ao Saramago o favor de me vender os Ro(s)tos do Meu País em Lisboa, pedido que prontamente aceitou. Por duas vezes fui ter com ele à redacção do Diário de Lisboa recolher os proventos das suas/minhas vendas, que ele registava com todo o pormemor.

Acompanhei-o durante alguns anos, trocamos correspondência, telefonámos, até que ele foi para Lanzarote.

Depois disso, apenas lhe mandei um fax de parabéns pelo prémio Nobel, mas nunca mais nos encontrámos.Havia uma galáxia entre nós…

Abraço
João

Nota
Agora faça lá o resto das perguntas…

sexta-feira, 13 de maio de 2011

30 - RETOMANDO OS TRABALHOS APÓS LONGA PAUSA

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Queria  que fosse em perguntas, meu amigo, o enunciado desse momento mágico. E que as respostas a elas nos trouxessem em vívida transparência a clareza do seu espírito atento de alma sensível e poética, capaz de produzir textos de extrema beleza.
Queria que o meu talento como entrevistador fosse capaz de apanhar os momentos mais significantes dos seus mais significativos episódios, das suas características mais  peculiares que mais o revelassem – talvez retratassem.
Queria que as suas amizades antigas significassem por si mesmas algo assim como um caminho, um histórico de vida que falasse do indivíduo muito além das suas preferências, e das suas escolhas.
Creio que ao invés de tudo isto, apenas estou conseguindo mostrar o João homem comum, dotado de uma notável capacidade para a escrita, como todos os seus livros, e os seus textos aqui apresentados demonstram claramente.
Por outro lado, não é disso que se trata, num site sobre poetas ? A tradução de tudo o que foi publicado trará por certo um maior interesse sobre a entrevista propriamente dita, o que revelará se o estilo leve  e não demasiado convencional que escolhi para ela serve bem aos propósitos que visei atingir.
Esperemos que sim.
A terceira parte, em todos os casos, encerrará a entrevista em coerência com a linha iniciada anteriormente, sem pretender ser exaustiva.
Um abraço, João.

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domingo, 17 de abril de 2011

29 - ENTREVISTANDO JOÃO SOUSA TEIXEIRA ( 2a PARTE )



1-      No primeiro bloco da entrevista, você falou sobre dois livros, ainda não publicados, sobre os quais ainda não estava decidido a fazer divulgação. “Prova de vida”  é um deles ?
O que quis dizer foi que não os apresentei a nenhuma editora, divulgar, vou divulgando… É “Prova de Vida”, sim. O outro original irá chamar-se Possibilidade de Aguaceiros e, lá para 2012, nova ficção com Súbita Floresta.

2-      ”Prova de vida” é uma expressão que faz lembrar de alguma forma a previdência social, a necessidade que o idoso tem de provar que existe.Foi a intenção que presidiu á escolha do nome ?
Essa é para me apanhar.  Os títulos são o que são: normalmente, são uma espécie de chamariz. Ora porque entra bem no ouvido, ora porque é sugestivo ou mesmo inusitado. No caso, tem a ver com o facto de ter escrito um conjunto de textos sobre as memórias de infância (as pequenas coisas que lembram depois na fase adulta) e, logo a seguir, outros sobre momentos importantes da minha vida, como o serviço militar, a intervenção social e cívica, o amor, os filhos, etc. Esta mistura deu o título. Na realidade, como diria Neruda, “confesso que vivi”…


3-      Um dos seus textos, aliás formidável, fala da guerra ao longe: “A guerra”, onde os nossos não morriam nunca.  Fala disso como dum tempo transitório, passado o qual, a vida voltaria á normalidade e tudo retomaria o curso monótono dos dias. ( De alguma forma, isso recorda-me aquelas imagens dos soldados gravando mensagens para a família: “adeus e até ao meu regresso”, fórmulas que alguém encontrava e que se radicavam e passavam  a ser usadas por todos, posturas iguais frente ás câmeras, enfim, estereótipos adotados e disseminados por todos.)É dessa guerra que nos fala ?
Embora essa tenha sido a guerra que vivi do lado de cá (a “minha guerra” já foi a da transição da soberania para os povos das ex-colónias e da liberdade para ambos) o quadro que apresento é justamente o do cinzentismo da ditadura, que enviava os cidadãos armados e para longe, incutindo-lhes que a pátria assim o exigia. Essa guerra foi o dia-a-dia dos portugueses durante quase duas décadas… A propaganda oficial suportava tudo isto com a ideia peregrina de que nós não morríamos nunca, tal como os heróis nos western norte americanos.

4-      Como foi Cabo Verde, do ponto de vista literário?
Naquela altura 74/75 coincidiu a minha disponibilidade total com a chegada a Cabo Verde dos seus filhos no exílio. Por outro lado, a liberdade trouxe convívio, manifestação cultural. Fundou-se o Novo Jornal, o No pincha, jornal do PAIGC, passou a ter circulação legal, a rádio teve uma lufada de ar fresco… Enfim, foram abertos os portões do Tarrafal. Entretanto, os escritores e poetas da diáspora juntavam-se em tertúlia, à tarde, na Pracinha. Recordo algumas conversas com Ovídio Martins , poeta e jornalista, a quem a PIDE (polícia política) torturou ao ponto de ter ficado quase completamente surdo. Quanto ao resto, era a azáfama semanal com o jornal e a produção poética, que na altura foi bastante profícua.

5-      Claramente, João, há uma maturidade especial nos seus textos deste livro.  Sente isso, ou é suposto serem os outros a sentir ?
Se esse sentimento for comum, tanto melhor. Pessoalmente, tenho consciência dessa maturidade literária e quero partilhá-la. Se os meus leitores ficarem satisfeitos com a sua leitura, eu ficarei também.

terça-feira, 12 de abril de 2011

28 - ENTREVISTANDO JOÃO DE SOUSA TEIXEIRA


Olá João.
Antes de mais,  obrigado por concordar em  deixar-me entrevistá-lo.
(Estas são as primeiras perguntas, que visam  mais ou menos apresenta-lo apesar de os seus textos praticamente falarem por si. Então, a minha preocupação maior é colher de si algumas opiniões, mais do que pô-lo a falar sobre si mesmo. Depois que me responder a estas, farei outras, e quando me responder a essas, farei as ultimas. Dos três blocos, reunidos e misturados, levedados e não sei-que-mais-ados, deve acabar por sair algo parecido a uma entrevista, sem o ter invadido muito. Se algo lhe desagradar por favor queixe-se, que mudamos facilmente sem chegar a publicar. Isto é para ser-nos agradável a todos. Certo ? )
Escolherei alguns textos que me toquem particularmente, dos que me facultou, e agradeço a confiança com que o fez. Cá vamos então:


1- Sei  que falar de si mesmo não é das coisas que mais gosta de fazer,  não é verdade?  Antes de entrarmos  na entrevista propriamente dita, posso perguntar porquê?
- Partilho da ideia daqueles que entendem que ninguém é bom juiz em causa própria; se alguém tiver de julgar, que não seja o próprio. Admito, no entanto, que me causa constrangimento falar na primeira pessoa. É modo de ser.

2- Sabe que o seu signo mudou agora há poucos dias, e não é mais aquele signo famoso por produzir escritores,  escultores, enfim, gente ligada ás artes ? (  Juro...não é não ! Agora, meu caro, o seu signo é gémeos.  O meu também. Fomos despromovidos, eu acho....)
- Gémeos, eu? E agora, como vou arranjar dinheiro para sustentar duas criaturas?!...

3- Acredita nisso - na influência dos signos na sua vida? Ou a pergunta é, talvez, demasiado leviana... (Vai ser muito lacónico a este respeito ?)
Com efeito, ser caranguejo ou outra coisa qualquer, para mim é igual. Evito ser besta, mas esse não faz parte do Zodíaco.

4- Deixe-me reformular a pergunta, João: - O poeta nasce pronto ? Ou um dia descobre-se poeta e depois aperfeiçoa-se?
- Nasce-se pequenino (embora a minha mãe não tivesse achado graça aos meus pueris cinco quilogramas…) e depois há o mundo, as circunstâncias, os gostos e a correnteza da vida. Foi assim que me fiz poeta. Julgo que o gosto por histórias e, sobretudo, de construir sensações com palavras, foi o mote certo. O aperfeiçoamento é a prova disso: há poemas que brotam e outros que conhecem mais versões do que versos propriamente ditos…

5- Autoproclama-se,  ou  é  proclamado ? São os outros quem cria o poeta?
- Como comecei a escrever muito cedo (quinze anos, por aí) desde há muito que amigos e conhecidos me colam esse epíteto. Creio que sempre com as melhores intenções. Às vezes, chamam-me mesmo “o poeta”, mas isso tem a ver com o início precoce, como referi.

6 – Há uma linha da poesia, na palma da mão ?  Caminhos marcados pelo destino?
- Penso que não há ninguém, seriamente, que diga  agora vou ser um “ista” qualquer. E na palma da mão muito menos. Nesse capítulo, o que posso responder é que só escrevo na mão quando não tenho papel… Mas não deixo de dizer que fiquei muito surpreendido quando soube de um crítica de Fernanda Botelho, vinte anos depois do meu livro Alegria Incompleta, em que esta superior escritora crítica literária, infelizmente já falecida, apelidava a minha poesia como sendo do “coisismo”.

7- Gosta de fado ? Crê que existe esse compromisso entre as escolhas e o inevitável, que o cancioneiro popular transformou no nosso fado, além de tudo o mais que os entendidos dizem que ele é ?
Gosto de fado, sim. Não creio no fatalismo. O fado hoje tem caminhos mais sadios, sem deixar de se identificar com o sentir português. O fado da desgraçadinha já não cola.

8- Lembra-se quando falaram de si como poeta, a primeira vez ? Como nome ligado á cultura, e a uma atividade especifica – a da escrita ?
- A primeira, primeira, não me lembra. O que me lembro é que muito cedo os jornais da região, nas críticas habituais aos meus livros, começaram a falar daquele jovem poeta e tal… Isto nos idos de 70 do século passado. Mas tive sempre críticas generosas (eram meus amigos…). As críticas más nunca foram publicadas ou então não as li.
Porém, o acolhimento de três editoras (Vega, Campo das Letras e RVJ), o patrocínio de municípios (o meu e aquele onde resido), o prémio da APE e respectivo apoio da Gulbenkian, entre outros, são motivo de orgulho e incentivo para continuar. Aliás, tenho dois livros de poemas inéditos e ainda não me decidi mostrá-los.

9 – Lê muita poesia ? Favoritos ?
-Leio toda a poesia e toda a ficção e até tudo o que às vezes não deveria ter lido. É compulsivo… Poetas favoritos: Gomes Ferreira, Vinicius,  Neruda, Alexandre O’Neil, Cesário Verde, Paul Elurd, Cecília Meireles, João Cabral de Melo Neto, Pessoa, Torga e Sofia de Melo Brayner, Lorca, Ginesberg, Daniel Filipe, entre muitos, muitos, muitos outros.

10- Diz-se que o Humor é o género literário que mais depende da colaboração do leitor. Concorda?
-Pois. Mas se não estiver deste lado, meu amigo. Eu ponho humor em tudo o que escrevo e faço. Não é para combater aquele fatalismo que diz que tristezas não pagam dívidas; é porque sou mesmo assim. Mas concordo que o leitor necessita de apanhar o fio para entender quando as lágrimas do autor são apenas cloreto



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 sódio…

terça-feira, 5 de abril de 2011

comentario publicado

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Decidi publicar um comentario recente da Maria José Mendonça, demasiado bonito para ser visto apenas por quem abrir a janelinha dos comentários.
Além disso, a Maria José não só nasceu na mesma cidade, mas nasceu na mesma casa que eu, além de a unirem laços afetivos muito fortes ao João.


Hoje venho de longe
ler em cada verso (a verso)
uma lágrima não chorada
uma luz ainda por nascer
uma manhã (s)em poesia

Abro a janela de mansinho
deixo-te folhas de papel
um lápis de qualquer cor
A carvão de azul ou mar

Pouso suavemente uma mão
Uma mão cheia de palavras
Para nascerem novas manhãs
E poeta ao acordares digas:

- Hoje nasce de mim a poesia...

Parto no silêncio da noite
Deixo entreaberta a janela
Ao chegar o primeiro raio de sol
Junta as palavras e renasce...

(A cada verso, por tuas mãos)

POETA, que o és!!



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domingo, 3 de abril de 2011

27 - JOÃO DE SOUSA TEIXEIRA - MEMÓRIA DOS CHEIROS



I

Não havia cheiros como os da casa da minha avó.
Ah, se eu pudesse descreve-los,
reproduzi-los com palavras perfumadas!
Subia as escadas
com aromas carregados de maresias recentes,
misturados com o perfume do irrepreensível encerado,
e sabia, pela corrente de ar vinda da cozinha,
que uma grande fatia de pão caseiro,
com queijo de cabra, me estaria reservada para a merenda.
Cada recanto tinha o seu próprio odor,
por isso reconhecia de olhos fechados
a geografia de toda a casa
e do meloso aroma das mãos que me afagavam o rosto,
dos lábios que me beijavam,
do regaço que me acolhia como ninguém.



João de Sousa Teixeira




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sábado, 2 de abril de 2011

" SER POETA É " ( Grupo Trovante )



Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhas de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dize-lo cantando a toda a gente!


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26 - ARVORE DE NATAL


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Na época, quase publicamos do João este poema .  Foi por um triz. Mas nunca é demasiado tarde para retomar o que provisóriamente se deixou por fazer. Aqui está.


A ventania de ontem à noite
tombou uma azinheira centenária, em frente da minha casa.
O fôlego da tempestade,
em contraste com o seu já débil alento,
foi superior às suas forças. Respirava ainda quando a vi:
arrastando a ramagem
e os escassos frutos no chão molhado,
suplicava o impossível conserto da sua coluna vertebral.
Não chorava – tanto quanto eu pudesse perceber – suplicava
a mão, o gesto ou apenas o olhar
a quem sempre a julgou eterna e eterna haveria ser
depois de nós e ainda dos que viessem.
Com um dos ramos tocou-me ao de leve.
Pareceu-me uma carícia, um aceno
ou o desejo de lançar nova raiz,
agora que a morte tornava inevitável a remoção.
Aceitei o ramo como presente.
A velha azinheira ofereceu-me a sua eternidade.


João Sousa Teixeira

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25 - JOÃO SOUSA TEIXEIRA - Biografia

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Em meados da década de sessenta, João de Sousa Teixeira começou a escrever arremedos do que havia de ser poesia e as pessoas acharam-lhe graça.

Em 1972, por conta própria e empenhamento de muitos amigos, publica os seus dois primeiros livros de poesia: Ro(s)tos do Meu País em 1972 , e Terra Alheia no ano seguinte.

Veio a guerra, mas ficou ao abrigo do ar condicionado: foi colocado em Cabo Verde. Por ali foi escrevendo em folhas de jornal. No caso o “Novo Jornal” até à independência do Arquipélago, em 5 de Julho de 1975.

Em Portugal havia coisas mais importantes que a sua poesia e começõu a lutar por coisas melhores, o que ainda hoje acontece, pese a desilusão e… a idade. Ah, e havia os seguros em que trabalhou durante 29 anos.

João de Sousa Teixeira só em 1980 voltaria a editar e logo três livros de poesia: Ultrapassar os Limites em 1980, Poesia de Costumes dois anos depois e Corpo de Poema em 85.

E acabaram-se, aí, as edições de autor. Voltou aos jornais, às revistas e também às colectâneas. Coisas de entreter e sustentar o vício.

Em 1988, a Editora Vega editou-lhe “Alegria Incompleta” que, aliás, fora contemplado com o Fundo de Apoio à Edição de Autores Portugueses da A.P.E., patrocinado pela Fundação Kalouste Gulbenkian. Só 20 anos depois soube que Fernanda Botelho gostou do que leu e disse-o na Colóquio/Letras, com o título de “Poesia do coisismo”. Em 1991, a Câmara  pagou-lhe a edição de E(n)cantos de Castelo Branco.

Em 1999 deixou a Beira Baixa, os seguros e coisas menos relevantes e rumou ao Alentejo. Viana do Alentejo. Coisas bem, coisas assim-assim e coisas do arco-da-velha, emprego na Câmara Municipal e novo livro. Agora era ficção, “Mar de Pão”, onde João de Sousa Teixeira se rende à provincia do Alentejo de alma e coração. A Campo das Letras editou o texto, em 2003.

Com a mania de ter opinião sobre tudo o que acontece não deixou de escrever uma crónica mensal no Ensino Magazine, da editora RVJ, ofício que tinha desde a sua fundação há doze anos. Em 2008, quiseram estes amigos editar-lhe “Rebuçados, Caramelos & Sonetos”, poesia.

Descobriu recentemente a blogosfera para uso pessoal e agora, tem um blogue homónimo de um dos seu livros: Corpo de Poema.

Finalmente, e voltando ao discurso directo, acrescenta, de forma irónica, o autor:
"Quando em 1952 nasci, em Castelo Branco, os meus pais não suspeitaram nada do que acabo de contar. Talvez por isso me tratassem sempre bem. A mim e aos meus quatro irmãos."


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24 - NOVO CONVIDADO - JOÃO DE SOUSA TEIXEIRA

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Trazer mais um texto á luz, ao conhecimento dos meus colegas, é um prazer a que me dou com uma satisfação sempre renovada. Na verdade,  é um dos meus maiores prazeres.

Trazer ao convívio de todos  outros colegas igualmente produtores de textos, poetas ou não, consegue ainda ultrapassar esse prazer  já de si intenso.

Mais uma vez, faço-o com muita simplicidade e sem mais demoras, apresentando-lhes  a biografia do nosso convidado:  - João de Sousa Teixeira.

Curiosamente, nasceu na minha cidade e no mesmo dia que eu.
Benvindo, João.
E um abraço !
H





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segunda-feira, 28 de março de 2011

23 - MÁS DO QUE EN PIEDRA



Más que en piedra,
más que  en la dureza fría y resistente al desacato de los días,
quería saberlas  escritas en  el Tiempo, a mis palabras.

Albergo la esperanza pretenciosa de que algunas puedan existir,
que alguien las torne suyas y las guarde profundamente,
añadiéndoles una sobrevida propia,
ya independientes de mí, su creador.

Y que así se queden  eternizadas por un poco más,
tal vez apenas el tiempo de un sueño que provoquen.

Y que,  todas las veces, ellas me recreen, si fueran leídas,
y me evoquen, si fueran leídas una segunda vez.

Y sostengan como memoria, si son guardadas:
un pedazo de mí liberado e  intemporal,
mirándome directamente a los ojos
sin jamás decir adiós ...

Henrique Mendes

terça-feira, 22 de março de 2011

22 - ATRASADAMENTE....

PELO DIA DA POESIA, RECEBEMOS O PEDIDO DE PUBLICAÇÃO ABAIXO:

Hoy, 21 de Marzo, se celebra el Día Mundial de la Poesía. Queremos hacer llegar nuestro saludo a todos ustedes en este día tan especial
¡Salud Poetas!
Russo Dylan-Galeas
Administración

Leonor Aguilar
Sub Administración



No digáis que agotado su tesoro,
de asuntos falta, enmudeció la lira:
podrá no haber poetas;
pero siempre habrá poesía.

Mientras las ondas de la luz al beso
palpiten encendidas;
mientras el sol las desgarradas nubes
de fuego y oro vista;
mientras el aire en su regazo lleve
perfumes y armonías;
mientras haya en el mundo primavera,
¡habrá poesía!

Mientras la humana ciencia no descubra
las fuentes de la vida,
y en el mar o en el cielo haya un abismo
que al cálculo resista;
mientras la humanidad, siempre avanzando,
no sepa a do camina;
mientras haya un misterio para el hombre,
¡habrá poesía!

Mientras se sienta que se ríe el alma,
sin que los labios rían;
mientras se llore, sin que el llanto acuda
a nublar la pupila;
mientras el corazón y la cabeza
batallando prosigan;
mientras haya esperanzas y recuerdos,
¡habrá poesía!

Mientras haya unos ojos que reflejen
los ojos que los miran;
mientras responda el labio suspirando
al labio que suspira;
mientras sentirse puedan en un beso
dos almas confundidas;
mientras exista una mujer hermosa,
¡habrá poesía!


Gustavo Adolfo Bécquer

Gracias Russo, Gracias Leonor. Aqui se queda publicado, con mucho gusto. Un grande abrazo a los dos.

quinta-feira, 10 de março de 2011

21 - SEMEADOR DO DESERTO (AGRADECIMENTO)

Agradecemos ao poeta brasileiro, o pernambucano Felipe Padilha (O poeta do deserto) por ter aceito nosso convite e por sua brilhante participação, através da apresentação de seus textos, os quais nos foram gentilmente cedidos. Tivemos imenso prazer em apresentá-lo e desfrutar de suas letras, de seu estilo tão peculiar de dizer poeticamente sobre os sentimentos do homem e da sua sensível percepção do mundo a sua volta. Deixamos-lhe o nosso abraço. Obrigada Felipe!


SEMEADOR DO DESERTO

Decerto é árido o deserto, só água de pedra, sede, areia, ardência,
E os cactus guardam dentro de si, a água líquida da sobrevivência.
Arenosa poeira, em tempestade, embaça além dos olhos da visão,
Faz projetar imagens, abstrações da mente, miragem, mera ilusão.

Decerto é hostil o moderno mundo, gente pobre, poder, demência,
E o homem guarda dentro de si, a senha, que ignora a sua essência.
Alma pura, em conflito, perde-se além dos sentidos da imaginação,
Faz projetos concretos, abstem-se da sensatez, fantasia, mera ilusão.

Decerto o homem é bom, tem alma, coração, amor, fé e clemência,
E ambições guardadas dentro de si, armas perigosas da inteligência.
Vaidade, em intensidade, se esquece da simplicidade da sua emoção.
Faz seus castelos na areia, subtraído da razão, ilação, a mera ilusão.

Decerto o homem tem tempo de resgatar a humildade e a inocência,
E os sentimentos guardados, fraternos, puros, livres de maledicência.
Esperança, em evidência, que se lembre de ser solidário com o irmão.
Faça do deserto inóspito, o silo, para a semeadura da nossa salvação.


***Este poema é dedicado com muito carinho ao meu amigo querido, Felipe (o poeta do deserto), pela extrema admiração que tenho pela sua obra. O poeta, que deveria ter o cognome de “poeta do amor”, tem uma grande preocupação com as questões sociais, que levam o homem a desvirtuar-se da sua espiritualidade e perder-se no concreto, na materialidade das suas ambições.
Celêdian Assis

quarta-feira, 9 de março de 2011

20 - POÉTICA NEGREIRA (O POETA DO DESERTO)

Imagem Google - Negreiro-Rugendas

Navios negreiros fétida lembrança, devido à melatonina a herança de um povo maltratado, mas, tenaz, cubículo impregnado no âmago de minha mente, inenarrável dor me traz;

Gritos suados, farrapilhos de gente amontoados, rumo a um destino traçado pelo capataz, mar ingênuo afogando nossos sonos, sonhos,
emergindo vil metais, o único ensejo daqueles homens, que com a dor de outros sem direito nem a nomes, acumularam capitais;

Do mar de dor ao maior martírio, maltratados em meio ao cultivo, dos tubérculos,
dos legumes aflitos, das verduras, dos grãos sem paz, o chicote era o incentivo, costas em chagas o comum aviso, ao desavisado mais audaz;

Quando a noite silenciava os gritos, dança de roda, feijão cozido, com tripas ensebadas,
saudade não me traz, engaiolados sem aviso, sem eira nem beira só com um desígnio, a liberdade de outrora não mais;

Vi parentes sem forças sumindo, amigos se despedindo, em meio ao sangue tão igual aos demais, não entendia o porquê do domínio, esse era meu maior desatino, Deus escutou os pedidos, misturados aos constantes gemidos,
por saber que éramos iguais;

Tronco do ardor no pátio erguido, chibata sem pena apurada com sais,
negros fujões enterrados vivos, castrados, as palmatórias sem alívio, azeite quente tortura voraz, gloriosa lei nos devolvendo um sorriso, que há muito estava preterido, ao ranger mesclado aos ais;

Sou um resquício de um passado escondido, nas vielas do que não me apraz,

porém, hoje exclamo incontido, um por anos silenciado grito, nossa cor não nos diferencia dos demais, perdôo o que fizeram comigo, e com os outros que ficaram para trás, racismo pior inimigo, transmutados em um capataz.


O POETA DO DESERTO

Indicamos o áudio do texto acima através do link: http://www.opoetadodeserto.recantodasletras.com.br/audio.php?cod=36704



terça-feira, 1 de março de 2011

19 - APRESENTAÇÃO DO POETA DO DESERTO

         
            
               Apresentamo-lhes nosso convidado do mês, o poeta brasileiro do Estado de Pernambuco, Felipe Padilha di Freita, “O poeta do deserto”. Felipe tem estilo singular de fazer poesia, usando a palavra com total liberdade e sem nenhum compromisso com as convenções, cria neologismos com facilidade, o que traz intensidade e encanto aos seus textos, que variam desde as inquietações da sua própria alma, até o seu olhar atento para as mazelas sociais, sempre com o brilho da sua aura, o fervor da sua mente, o encanto do seu poetar sobre suas singelas divagações.
          Eis que do deserto, o palco que ele elege para mostrar as dificuldades de levar a palavra ao coração do homem, de cada grão pisado na areia quente, das bolhas nos pés de seu caminhar, nasce assim como a um cactus, de um verde singularmente extasiante, contrastando ao beje da paisagem árida. Não é dos espinhos do cactus que lhe vejo em semelhança, é na capacidade de armazenar a água que o sustenta, assim como a sua alma que guarda silente, a substância que alimenta a sua brilhante mente. De sua mente vertem fluidos de sons e tons, numa energia vibrante, sobretudo, contagiantemente harmônica.
Celêdian Assis


A seguir, textos de Felipe Padilha di Freita (O poeta do deserto)


DISFARÇADAMENTE POETA

Sou escritor teimoso, que embromo com meu pensar, misturo palavras incertas, se encanto não sei falar, sou deveras um persistente, meu verbo é tão só tentar, não sei se agrado a todos, a simplicidade comigo está;

Um dia pensei comigo, uma forma de externar, as idéias dos calabouços, na mente não vão ficar, unindo letras é que encontro a forma de esboçar, a arte que mui pouco entendo, quero apenas me libertar;

Liberto-me dos devaneios, para indagações arrumo lugar, amores que tive ou não tive, a importância de se questionar, sarcasmo é companheiro, as dores que fazem chorar, as belas estrofes alegres ajudam-me a não parar;

Escrevo para mim mesmo, prazer é finalizar, meu clímax monossilábico, indescritível sentir me dá, palavras entrelaçadas aguçam um poetar, por isso me atrevo escrevendo tão só a imaginar, que sou mesmo algum poeta, transcendente idealizar;

Pessoa tinha talento, e sabia exemplificar, a dor que deveras se sente, o poeta quer camuflar, não sabe inocente este, que dele mesmo não se vai fugir, as entranhas e os avessos entregam qualquer sangrar;

E em meio à teimosia continuo o meu caminhar, sou amante dos atrevidos,
latejante é meu indagar, poesia é o acalento, o que estimula o meu sonhar,
de algum dia ser um poeta e com as palavras poder brincar, pois,
brincando de assim o ser, poderia assim disfarçar, e enfim,
disfarçadamente, ser poeta e ninguém notar.


O POETAR DE UM MENDIGO

Duro chão que sustenta minhas cansadas pernas 
e o meu repousar em um papelão;
Suave chuva que limpa minhas chagas, mas, que congela o meu corpo cão;
Frio e azedo rodízio com excremento, degluto com ânsia com a palma da mão;
Olhares penosos que me acompanham, moedas minguadas em meu calção;
Se tive sonhos já não recordo, hoje só lembro da solidão;
Pedir esmolas é o que tento, é o que me resta de opção;
Estou muito velho e não suporto, o pesado fardo que dito em vão;
Continuarei sendo ignorado, um poeta fétido na aflição,
farrapo humano despedaçado, triturada e seca desilusão,
nem o sol aquece o meu dia a dia, nem meu poetar é a solução,
aguardo o fim desses meus dias, morrerei de fome ou me matarão.

O MENINO QUE QUERIA SER POETA

Menino humilde, franzino, em meios aos seus desatinos,
desestimulado pelo seu árduo destino,
aprendeu a escrever com apenas um desígnio,
em meio à sofridão do divagar sem riso,
mãos com fome a tremular rabiscos,
 barriga oca com um esperançar aflito,
religando letras de um futuro escondido,
sem sonhos, com dramas travestidos em pueril criança.
Árido chão a mais real lembrança,
caçamba vazia remetendo à bruta andança,
 chão corroído e sem boa aventurança,
desabrochar em um suspiro sem herança,
sem bonança, pratos cansados em aguardar substância,
sol que queima inspirando as letras que dançam,
 em papéis catados na vizinhança,
outros doados pelos que acreditavam nos delírios de uma criança,
 que tinha um sonho a mais tênue confiança,
de viver desse dom, quase impossível relutância,
se entorpecia em um soletrar que alcançava a mais sublime
 e a mais transcendente adivinhação.
Termino esta poesia na espera da mais que divina comprovação,
a guardarei em um cantinho mais que secreto e também em meu coração,
desculpe a pouca métrica, a falta de paragrafação, o pobre acentuar,
e o descompassar nas pressas de minha emoção,
só a mostrarei se minha meta, um menino franzino que queria ser poeta,
se consolidar neste meu mundo cão,
onde o que me nutre são as rimas
e o poetar é minha única e farta alimentação.

Dedico esta poesia a todos que acreditam incessantemente na arte que brotam dos seus corações e que a fazem o refúgio mais que certo da real libertação. Aqueles que não desistem dos seus dons, de suas vocações e definitivamente dos seus sonhos!
(O POETA DO DESERTO)

domingo, 13 de fevereiro de 2011

18 - LINEAS ( verso libre )







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Conocía bien aquellas líneas.
Eran caminos, en otro color,
donde ya había visto el día amanecer en fuego
y robarles  la inocencia alba de la luz de la luna reflejada en la arena.
Caminos donde  ver escurrir un poco de agua,
y con ella llegarme una hipótesis aún frágil de vida,
mientras se evanescían la fiebre,  el miedo,
y la soledad de las distancias escogidas.

Caminos de gestos económicos, sencillos,
donde siempre habían promesas de caricias por ocurrir
y sonrisas coronando brillos en los ojos de los días,
como cánticos de victorias tenidas, o pasos dados libres.

Conocía bien aquellas líneas.
Sangre caliente y espesa bajo una palma ardiente y tierna,
más clara, generosa, rebelde  con causa, postergando
al imposible  el momento de ceder  y  decir sí.
Después seguir adelante, concordar, esconder, pretender,
disputar torneos en  tableros socialmente creíbles.
-mas hasta entonces, líneas.
Un destino cierto ocurriendo en detalles.
En los pasos ligeros, a mi lado, mientras  pláticas sin rumbo,
y en las voces súbitamente hablando más bajo que la luna enorme,
amarilla entre las dunas, repetitivas y mágicas
 Y había en los ojos  otras líneas, no trazadas,
destinos no esbozados, palabras jamás dichas hasta el fin
- como si hubiera un fin que las palabras pudieran alcanzar
o tal vez  transformar  en líneas de sangre oscura,
ríos bajo la piel hablando de nuestras creencias más sencillas
y de los rumbos que el corazón y la vida escogieran antes que nosotros.

Si, las conocía bien a aquellas líneas,
y a su fuerza la conocí una noche
cuando los gestos rituales de una danza inmemorial,
reflejando la luz privada de una hoguera escondida,
fueron revelando una por una todas las líneas de aquellas manos.
 Y con ellas las esperanzas, sin límites de horizonte o de alegrías,
y el afecto sin frenos, ni rodeos,  ni amarras,
y, a los pocos, la perfección  intocable, intocada  y desnuda
del fruto maduro,  ofertándose  ya listo,
que el tabú antiguo prohibía coger.
 Y las líneas me hablaron del mundo por mucho tiempo
(hasta el silencio de todo, menos de los ojos, diciendo inmensidades )
Ahora los tiempos eran otros ,
Mas yo las conocía  bien a aquellas líneas, que no volvería a ver
después que el frío de la madrugada me recordara,
más de veinte años antes, cómo es frío amanecer solo.
 Líneas que ahora, súbitamente,  reencontraba.
Sorprendido, mas no sin esperarlas,
en el gesto prosaico de una mano tendida para mí,
asegurando algo que yo no pegaba,  esperando.

Erguí mi mirada
sabedor que  despreciaría el silencio de todo
menos de  lo que  esos ojos iban a decirme de inmensidades.
Mas vi cuando la mano tembló,  las líneas se contrajeron,
y parecieron serpentear y buscar nuevas formas,
como nuevos caminos ambicionando un viejo mapa,
o dudas de vidente sobre un destino mal previsto
ya desarrollándose en detalles capaces de sorprenderlo.

En la madrugada cambiamos silencios e inmensidades.
Era tanto lo que sabíamos uno del  otro
que no había un tiempo para las palabras.
Aplacamos sedes en gestos mil veces entrevistos,
 reconocidos,  ambicionados inmensamente.
Fue un adiós...


(texto de Henrique Mendes)
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sábado, 5 de fevereiro de 2011

17 - FIM DO NOSSO MÊS COM NUNO MARÇAL




Por email recebemos do Nuno as palavras seguintes:



"Olá Henrique!
Bem haja por todo este envolvimento em
prol do Papalagui e do Bibliotecário-Ambulante! 

Uma vez mais bem haja por tudo, se precisarem
de mais alguma info não hesitem em perguntar !
Um abraço"

Nuno Marçal
Bibliotecário Ambulante


Respondemos:
Somos nós quem agradece !

De Leonor Aguilar, um pedido de publicação no nosso blog, em 17-2-2011:

A Nuno, en Coisas de Poetas, en su respuesta:

Es un placer y un honor haber tenido la oportunidad de exponer tu trabajo en el foro y la revista. Pasar por tu blog y conocer algo de tu inmensa labor nos es muy grato y deseamos poder seguir leyendo y disfrutando de tu creación.

En nombre de todos los que hacemos Poetastrabajando.com , nuestro agradecimiento.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

14 - NUNO MARÇAL - entrevistado por Roberto Santamaria

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Depois de visitar o seu interessante foto-blog, pude apreciar e constatar que tanto no que se refere á sua obra fotográfica, como ás  suas magníficas crónicas, se tratava de uma descoberta.

Por tudo isso, é uma honra para mim  dá-lo a conhecer a este foro através desta entrevista que tão amávelmente me concedeu.

A entrevista deste mês é diferente de todas as entrevistas realizadas por mim até hoje. Diferente e, diria eu, insólita, já que  não se considera nem escritor, nem fotógrafo.

Contudo, penso que estamos ante uma pessoa interesante ao extremo, seja pela sua personalidade, seja pelo trabalho que realiza.

Imaginem uma pessoa que a cada dia viaja levando um furgão biblioteca ( bibliomóvel ) a alguns dos mais recônditos povoados e aldeias  de Portugal, levando a cultura e o entretenimento.

Até aquí tudo normal, dirieis, ese é um trabalho como qualquer outro. Mas toda a vossa opinião mudaria se vos dissesse que Nuno Marçal não é um simples condutor que se limita a levar o biblio-bus e a estacioná-lo na praça do povoado.

Não, amigos.  Muito longe disso! Nuno Marçal envolve-se com os seus leitores, fala com eles, ajuda-os na escolha das suas leituras, toma instantâneos fotográficos que dão fé da existência desses povoados ignorados e das suas gentes, y realiza crónicas literárias dos lugares e das pessoas que vai conhecendo nos seus trajetos diários, recolhendo  o que os os seus olhos e o seu coração percebem e sentem.


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-Olá Nuno, como está? Creio que a melhor forma de começar esta entrevista será pedir que se apresente  para todos aqueles/as  que formam a fam[ilia de Poetastrabajando.com e que ainda náo o conhecem. Conte-nos, por favor,  onde nasceu, como se chama, a que se dedica profissionalmente, etc


Bom, a eterna questáo de quem sou, de onde venho e para onde vou…
Chamo-me Nuno Marçal, nasci em Castelo Branco um dia de 20;9;74 e soy bibliotecário, por paixão  e desde Junho de 2006 ao volante do Bibliomóvel. Como bibliotecário-ambulante tento conciliar a razão com essa paixão.


-Na sua tarefa diaria conhece gente de todas as idades,  crianças, adultos y anciãos. Em quem encontra maior  interesse pela leitura ?
Infelizmente a região onde trabalho ( Proença-a-Nova ) situa-se na ultra-periferia de Portugal. O despovoamento e o  envelhecimento das populações  deixo nesses povoados apenas os mais velhos e a um ou outro resistente, teimoso, que tem seus filhos, mas apenas nas férias os podemos escutar pelas ruas.
Outra das marcas destas regiões periféricas, além do isolamento geográfico y social é ainda a marca do analfabetismo.

Alguns dos meus usuários/visitantes e amigos não sabem ler nem escrever,  mas conto-lhes uma ou outra história e deixo-lhes uma ou outra revista de caça e de pesca aos homens e de lavores e de cozinha ás mulheres.

A leitura é uma ocupação que nos mais pequenos ainda não é uma atividade rara, e tenho alguns bons exemplos de autenticos devoradores de livros.

Mas os maiores e melhores leitores são sem duvida sa pessoas aposentadas, que regressam ás suas aldeias depois de uma vida de trabalho no estrangeiro ou em alguma grande cidade do país.

Para estas pessoas o Livro e a Leitura são uma companhia que os abraça e lhes transmite algum aliciante em situações, algumas muito difíceis, de solidão e isolamento.

Brincando, costumo dizer  que os recursos ( humanos, bibliográficos y sentimentais  ) do Bibliomóvel, são “aspirinas” contra a solidão e o isolamento, não são a cura, apenas meros paliativos para essa enfermidade.

-Quais são os géneros literários mais demandados , por cada segmento etário?

Os mais pequenos e jovens ( nas férias ) lêem os comicos e a nova literatura que os midia divulgam e vendem ( Harry Potter, Stephenie Meyer e afins ).

Os mais velhos, o tipo de “romance que faz chorar as pedras da calçada”, e uma ou outra obra dos autores portugueses classicos, como Garret, Eça de Queirós ou Saramago ) e também dos novos autores portugueses, muito difundidos pelos media.

Tenho alguns ( muito poucos ) que gostam de outro tipo de leitura mais complexa, como filosofía e política, ou escritores consagrados como Mark Twain, Dumas, Kafka, Rushdie, Garcia Marquez, etc. )… 

Outro género literário que tem muita saída é óbviamente composto pelos títulos mais em voga no mercado livreiro ( Dan Brown e afins ).

-Nos distantes anos da minha infância, recordo a impaciência que sentia por ver assomar na praça do meu bairro o bibliomóvel, e a emoção que despertava no meu intimo cada vez que retirava uma novela de Emilio Salgari  ou de Julio Verne… Você percebe essas mesmas sensações nos leitores infantis de hoje ?

Os jovens de hoje estão imersos num ritmo infernal de informação e conhecimento, pelo que pouco lhes causa surpresa como acontecia conosco há uns 20 ou 30 anos atrás, quando qualquer coisa nos causava assombro.
Tudo isso influí en seus comportamentos em relação ao Bibliomóvel. Essa sensação de alegría  e de impaciência encontro-a mais nas olhadas e conversas que tenho com os mais idosos, principalmente aqueles  que visito nos centros geriátricos.

-Quais são as obras preferidas dos jóvens?
Como disse anteriormente, os clássicos da literatura infanto-juvenil estáo sendo relegados a um segundo e um terceiro plano em favor dos autores e dos  livros mais divulgados nos meios de comunicação.

-Qual a leitura preferida pela chamada terceira idade?
A chamada terceira idade é onde está a maioria dos analfabetos  e iletrados, mas encanta-os ler , ou ouvir ler, e escutar histórias e lendas que falem do seu entorno e que os transportem á sua infância.

-Qual é o desencadeante que o leva a escrever uma história determinada?
Essa é uma questão difícil de responder, sobre a qual já ponderei muito. Creio que não é nada de particular importância, é apenas uma questão de um acontecimento que de alguma forma te marca o transcorrer do quotidiano.

-Já alguma vez ponderaste a respeito da ideia de escreveres um libro a partir das tuas crónicas ?
Como disse, não sou escritor ( nem tenho aspirações a sê-lo ), por isso me limito ao meu blog. Creio que cada um em seu oficio!


-Você tem um blog com o nome de O Papalagui. Que significado tem esse nome  e qual  foi a motivação que levou á sua escolha ?

A resposta a esta pregunta está na mina infância… Todos temos aqueles libros  que nos acompanham uma vida inteira. Pois um dos meus, foi “O Papalagui”.
O nosso professor da primária, mais ou menos aos dez anos, falou-nos desse libro e disse-nos que com dez anos não poderiamos entender nada do que estava escrito nele, e que sómente aos desasseis anos, mais ou menos, seríamos capazes de fazê-lo.

 Básicamente, o livro fala da perplexidade de uma chefe de uma tribo de indios dos mares do sul, que um missionário traz á europa, acerca do nosso papalagui ( homem branco ), o comportamento sobre tudo o que que nos rodeia no dia a dia, as relações com o dinheiro, o tempo cronológico, a relação com Deus – enfim, um libro fabuloso que nos faz pensar um pouco sempre que pensamos demasiado em coisas fúteis e esquecemos o que verdadeiramente é importante.


-Como leitor –amante dos libros que sou, imagino quão gratificante deve ser o teu trabalho, até ao ponto de abordar e prestar ajuda - para que possa acessar ao bibliomóvel - uma anciã, como no caso da tua crónica “Maria de Jesús”.
Que satisfação obtém destas situações que surgem das suas tarefas diárias ?

Os prémios que recebo são diários e constantes con a alegría  com que me recebem nas povoações, principalmente nos Centros Geriátricos.  Essas “aspirinas” que levo e distribuo pelos povoados, e a sua satisfação  ao recebê-las, fazem-me sentir um Bibliotecário realizado e um ser humano melhor, e esse creio que é o segredo do meu trabalho.

-Quando o convidei para a realização desta entrevista, confessou que não era nem escritor nem fotógrafo, no entanto, qualquer um que visite o seu blog dar-se-á conta que  o conteúdo do mesmo , tanto en imágens como no texto das crónicas, tem uma qualidade  que mostra um grande conhecimento de ambas as formas de arte. Na sequência desta reflexão, gostaria que nos dissesse quando começou a ser um aficcionado da fotografia?

Tampouco sou um profissional da fotografía, apenas un simples aficcionado, que tem uma pequena camera digital e, tal como acontece com as crónicas, o momento faz a foto, a máquina e os meus olhos recuperam-no/guardam-no e o computador dá-lhe um toque de qualidade.

-Participou, ou pensou em participar, em  alguma exposição fotográfica?

Nunca ponderei a respeito, mas tenho a minha exposição diária e constante feita no Blog.


-O que tentas expressar  com a tua fotografía?


O momento e o instante que me “chamam”, nos meus caminhos com o Bibliomóvel.

-Como escolhe os seus temas ?
Vejo a foto e algo há nela que mo diz…

-Costuma  fotografar com um propósito em mente, ou deixa-se levar mais pelas oportunidades que surgem?

“A oportunidade é que faz o ladrão”… Em castelhano, não sei se existe este ditado popular…

-Quais os Mestres clássicos da fotografia são os que mais admira?
Não tenho mestres, pois náo sou profissional, mas há alguns fotógrafos que me encantam, pelo seu sentido de oportunidad e, claro, pela sua técnica de aproveitar essa oportunidade: Robert Capa, Sebastião Salgado, António Melão ( cameraman metálico ) Rita Carmo...


-Como se desenvolve o instinto para saber quando há que premir o obturador?

O clic dá-se  por isso…por instinto ¡ Não há maneira de explicá-lo, é simplesmente o instinto.

-Há alguma pergunta que não lhe tenha feito, e que gostaria que lhe fizesse?

Bem, Roberto, creio que tudo está respondido. Perdoa o meu castelhano escrito, por algum erro de gramática ou ortográfico que me tenha escapado.

Muitíssimo obrigado por acompanhar y divulgar o meu trabalho.

Saudações Bibliotecárias-Ambulantes, desde este outro lado da raia imaginária, e saudações a todos os nossos amigos de Poetastrabajando.com que venham a ler-me.


-Isso é tudo, amigo Nuno, muito obrigado pela sua amável colaboração, sem a qual não teria sido possível esta entrevista.
Uma cordial saudação desejando-lhe muito êxitos.

Roberto Santamaría