terça-feira, 12 de abril de 2011

28 - ENTREVISTANDO JOÃO DE SOUSA TEIXEIRA


Olá João.
Antes de mais,  obrigado por concordar em  deixar-me entrevistá-lo.
(Estas são as primeiras perguntas, que visam  mais ou menos apresenta-lo apesar de os seus textos praticamente falarem por si. Então, a minha preocupação maior é colher de si algumas opiniões, mais do que pô-lo a falar sobre si mesmo. Depois que me responder a estas, farei outras, e quando me responder a essas, farei as ultimas. Dos três blocos, reunidos e misturados, levedados e não sei-que-mais-ados, deve acabar por sair algo parecido a uma entrevista, sem o ter invadido muito. Se algo lhe desagradar por favor queixe-se, que mudamos facilmente sem chegar a publicar. Isto é para ser-nos agradável a todos. Certo ? )
Escolherei alguns textos que me toquem particularmente, dos que me facultou, e agradeço a confiança com que o fez. Cá vamos então:


1- Sei  que falar de si mesmo não é das coisas que mais gosta de fazer,  não é verdade?  Antes de entrarmos  na entrevista propriamente dita, posso perguntar porquê?
- Partilho da ideia daqueles que entendem que ninguém é bom juiz em causa própria; se alguém tiver de julgar, que não seja o próprio. Admito, no entanto, que me causa constrangimento falar na primeira pessoa. É modo de ser.

2- Sabe que o seu signo mudou agora há poucos dias, e não é mais aquele signo famoso por produzir escritores,  escultores, enfim, gente ligada ás artes ? (  Juro...não é não ! Agora, meu caro, o seu signo é gémeos.  O meu também. Fomos despromovidos, eu acho....)
- Gémeos, eu? E agora, como vou arranjar dinheiro para sustentar duas criaturas?!...

3- Acredita nisso - na influência dos signos na sua vida? Ou a pergunta é, talvez, demasiado leviana... (Vai ser muito lacónico a este respeito ?)
Com efeito, ser caranguejo ou outra coisa qualquer, para mim é igual. Evito ser besta, mas esse não faz parte do Zodíaco.

4- Deixe-me reformular a pergunta, João: - O poeta nasce pronto ? Ou um dia descobre-se poeta e depois aperfeiçoa-se?
- Nasce-se pequenino (embora a minha mãe não tivesse achado graça aos meus pueris cinco quilogramas…) e depois há o mundo, as circunstâncias, os gostos e a correnteza da vida. Foi assim que me fiz poeta. Julgo que o gosto por histórias e, sobretudo, de construir sensações com palavras, foi o mote certo. O aperfeiçoamento é a prova disso: há poemas que brotam e outros que conhecem mais versões do que versos propriamente ditos…

5- Autoproclama-se,  ou  é  proclamado ? São os outros quem cria o poeta?
- Como comecei a escrever muito cedo (quinze anos, por aí) desde há muito que amigos e conhecidos me colam esse epíteto. Creio que sempre com as melhores intenções. Às vezes, chamam-me mesmo “o poeta”, mas isso tem a ver com o início precoce, como referi.

6 – Há uma linha da poesia, na palma da mão ?  Caminhos marcados pelo destino?
- Penso que não há ninguém, seriamente, que diga  agora vou ser um “ista” qualquer. E na palma da mão muito menos. Nesse capítulo, o que posso responder é que só escrevo na mão quando não tenho papel… Mas não deixo de dizer que fiquei muito surpreendido quando soube de um crítica de Fernanda Botelho, vinte anos depois do meu livro Alegria Incompleta, em que esta superior escritora crítica literária, infelizmente já falecida, apelidava a minha poesia como sendo do “coisismo”.

7- Gosta de fado ? Crê que existe esse compromisso entre as escolhas e o inevitável, que o cancioneiro popular transformou no nosso fado, além de tudo o mais que os entendidos dizem que ele é ?
Gosto de fado, sim. Não creio no fatalismo. O fado hoje tem caminhos mais sadios, sem deixar de se identificar com o sentir português. O fado da desgraçadinha já não cola.

8- Lembra-se quando falaram de si como poeta, a primeira vez ? Como nome ligado á cultura, e a uma atividade especifica – a da escrita ?
- A primeira, primeira, não me lembra. O que me lembro é que muito cedo os jornais da região, nas críticas habituais aos meus livros, começaram a falar daquele jovem poeta e tal… Isto nos idos de 70 do século passado. Mas tive sempre críticas generosas (eram meus amigos…). As críticas más nunca foram publicadas ou então não as li.
Porém, o acolhimento de três editoras (Vega, Campo das Letras e RVJ), o patrocínio de municípios (o meu e aquele onde resido), o prémio da APE e respectivo apoio da Gulbenkian, entre outros, são motivo de orgulho e incentivo para continuar. Aliás, tenho dois livros de poemas inéditos e ainda não me decidi mostrá-los.

9 – Lê muita poesia ? Favoritos ?
-Leio toda a poesia e toda a ficção e até tudo o que às vezes não deveria ter lido. É compulsivo… Poetas favoritos: Gomes Ferreira, Vinicius,  Neruda, Alexandre O’Neil, Cesário Verde, Paul Elurd, Cecília Meireles, João Cabral de Melo Neto, Pessoa, Torga e Sofia de Melo Brayner, Lorca, Ginesberg, Daniel Filipe, entre muitos, muitos, muitos outros.

10- Diz-se que o Humor é o género literário que mais depende da colaboração do leitor. Concorda?
-Pois. Mas se não estiver deste lado, meu amigo. Eu ponho humor em tudo o que escrevo e faço. Não é para combater aquele fatalismo que diz que tristezas não pagam dívidas; é porque sou mesmo assim. Mas concordo que o leitor necessita de apanhar o fio para entender quando as lágrimas do autor são apenas cloreto



Ir para http://poetastrabajando.com/


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 sódio…

2 comentários:

Manuel da Mata disse...

Eu gosto também de uma poetisa grega, "Safo", que conheci através de cacos traduzidos por um poeta que eu sei que amas e esqueceste (ou terei lido mal?.Nasceste grande. Vinhas bem destinado. Abraço. Manuel

Lídia Borges disse...

Interessante!

Já sabia que o "Humor" e João Teixeira se davam bem. Aqui pude confirmá-lo de maneira categórica.

L.B.