segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

13 - IMAGINO UM RETORNO A CASA

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Sempre haverá um rangido numa viga de algum telhado denunciando um vento forte, incomum, que nenhuma palavra humana evocou, denunciou,  ou sequer revelou.
Ou um arco branco, que ninguém viu, uma cabeleira efêmera dando face a uma onda no meio de outras  ondas para as quais não houve nenhuma tentativa de relato, por vã que fosse, nenhuma palavra usada em desespero que a ela se aplicasse - ou que ante ela definhasse, transida e cônscia da sua pequenês.
Sempre haverá um espaço feito de palavras como um todo, algo a que outras palavras pertencem, e onde faltam quando faltam - logo que se dizem, trocadas por silêncios. Dar-lhes vida, proferi-las, pô-las no mundo, é um regresso a uma condição natural gregária, e o quebrar de uma exceção nascida dos mutismos dos afastamentos.
Mas há momentos, em que as palavras não chegam para tudo o que nos vai na alma. São curtas para as memórias do dia, vagas para as raízes das saudades, e nem sequer esboçam aquilo a que regressamos em pensamento. Não há nada mais solitário, enquanto dura, que um regresso a casa.
A isso chamo melancolia. E, frequentes vezes, apenas uma imagem passada ao papel é capaz de reter em toda a sua riqueza e detalhe, que compõem a sua evidente fragilidade,  o que ninguém parece ver.
Melancolia, é o titulo que eu escolheria para esta foto formidável, se fosse minha.
Formidável, Nuno, o registro sensível e humano do que tantos não enxergam.
Obrigado por ter aceite o nosso convite e ter compartilhado conosco um pouco da sua vida, que é prova evidente de que poesia se faz não apenas com papel, caneta e palavras.
Todos ficamos, por certo, mais enriquecidos.
Um abraço

2 comentários:

Nuno Marçal disse...

É mesmo no regresso de mais um dia, mais uma rota, mais bons momentos de partilha mesmo no meio de um nevoeiro que cegava!

Celêdian Assis disse...

Eu diria que é perfeita a definição da imagem pela melancolia. Há no contexto da relevância da palavra, a sobreposição de imagens que falam por si e que as dispensam, por não serem capazes de reproduzir fielmente o registro da singularidade de momentos, cenas e coisas. Esta imagem reflete exatamente esta solitária volta a casa, onde os sentidos se perdem entre o que se assistiu e ficou irremediavelmente gravado e que se encontrará de palpável e real na realidade da volta.
Exuberante este texto que nos retrata a imagem com a força da poesia.
Um abraço,
Celêdian