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( da série Nuno Marçal - o caminho das palavras )Num contexto em que a literatura cumpre o seu papel de retratar, informar, e relatar as transformações que ocorrem periodicamente nas sociedades, não só pelas que ocorrem na linguagem ela mesma, mas pelo que ela registra de mudanças nos modos de vida delas, constituindo por si própria elemento, ferramenta de desenvolvimento cultural e, consequentemente, de evolução - há que mudar a maneira como olhamos a palavra, seja escrita ou falada.
E se considerarmos que a palavra falada tem como característica básica dar voz ao pensamento, e este se encontra sempre algo dependente do conhecimento, do tempo e do lugar, e que frequentemente só cumprem seus meios e fins quando acrescentamos-lhes outras palavras para mudar-lhes a conotação ou amplificar-lhes o sentido, torna-se visível como isso lhes confere um caráter de transitoriedade, de imediatismo.
Já de outra forma a palavra escrita não tem este caráter imediato, é dotada de significação mais remota mas mais perene, permite a fixação da ideia, do pensamento e caracteriza-se como registro, marca a cultura de um povo ao longo do percurso de sua história, de seus costumes e de suas peculiaridades.
Contudo, o registro e o posterior uso das formas de pensamento e expressão, não alcançam êxito se estas não forem estimuladas e se não houver esforço consciente para intensificá-las.
Há vários fatores que interferem nesse processo, e dentre eles a precariedade de recursos e a falta de acesso às informações, por sua vez determinados por questões políticas, religiosas, geográficas, sociais e econômicas.
Iniciativas se fazem necessárias para produzir mudanças significativas na vida dos povos e aquelas que lhes propiciam meios de aumentar os conhecimentos, são da maior relevância, na medida que lhes conferem uma maior autonomia cultural, consequentemente fortalecendo-os e dotando-os de maiores recursos para progredirem.
Sendo exemplo de iniciativa eficaz, as bibliotecas itinerantes cumprem bem este papel, levando às pessoas alguma informação, em lugares remotos distintos, frequentemente coincidentes com áreas de isolamento social, onde ainda há analfabetismo, carências educacionais graves e tantas dificuldades geradas pela falta de comunicação e pela falta de acesso à tecnologia da informação.
Experiências neste sentido tem sido desenvolvidas em países como Portugal e Espanha já de longa data, quer pelas autoridades, quer por entidades voluntárias que investem nesta proposta. Em todos os casos, são verdadeiros heróis, na sua maioria anónimos, que lhe dão corpo e a fazem funcionar.
Registram-se iniciativas em lugares inusitados, com extremas dificuldades de ordem diversa, como seja por exemplo o Sahara Ocidental, um território na África Setentrional, coberto por um projeto chamado Bubisher, que apoia culturalmente cerca de 400.000 pessoas saaráuis. Totalmente engajado nesta proposta de difusão cultural, pessoal e profissionalmente, o bibliotecário português Nuno Marçal vem desenvolvendo um belíssimo trabalho nas cercanias de Portugal e Espanha, utilizando-se do bibliomóvel sob a égide da “Cultura em Movimento”, como pode ser comprovado pelas suas fotos, num blog de sua autoria cuja visita recomendamos: http://opapalagui.blogspot.com/.
Finalmente é preciso ressaltar a importância de se divulgarem tais iniciativas, nestes tempos em que, inexplicavelmente, ainda vigoram tantas disparidades culturais pelo mundo afora. É preciso criar meios que tornem a palavra escrita numa ferramenta de edificação, cujo instrumento principal, o livro, difunda a informação e o conhecimento com o objetivo de instruir, de promover a socialização e a humanização dos povos.
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