quarta-feira, 13 de julho de 2011

33 - ADIÓS POETA - Henrique Mendes



Llegará el día que la línea, como una risotada interrumpida,
se quedará inconclusa. Por escribir.
Mas en ese día nada se quedará diferente.
No cambiará el espacio, que seguirá vago,
como siempre lo estará el espacio de los poetas. Disponible.
Y que, a pesar de eso,  seguirá repleto
porque jamás podría quedarse de otra forma
un espacio que la propia ausencia llena y enuncia. 

Y lo que resta en la memoria de los otros
capaz de merecer una cita concreta, reproducible,
una frase lapidaria que ilustre bien una situación,
o que claramente apunte un norte,
será tan importante cuanto ese espacio de ser inmutable,
que nada jamás ha alterado, y que ningún fin terminará. 

Y si nada llegara a cambiar a los ojos de los otros,
si hubiera apenas una vaga sensación de falta,
de cosa indefinible que el cotidiano crudo apagará
habrá aún la memoria de aquellos que un día,
por todo el breve tiempo encantado de un  poema,
volaron más alto y vieron el mundo con otros ojos,
y supieron que ser Poeta es  tener  otra voz
y otra forma de conciencia.
Inmortal, mismo que en silencio.

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32 - MONÓLOGOS NO TUNEL - de Henrique Mendes




Talvez tenha construído demasiado longo
esse túnel feito de palavras.
Esmeradas, escolhidas, polidas como jóias.
Únicas todas elas, raras e tão especiais,
mas um túnel demasiado longo,
sem claridade na saída. Nada.
Nada, a não ser o brilho escuro, familiar,
de mais palavras florindo em momentos,
feições novas de velhos significados revistos,
velhas roupagens puídas cerzidas mais uma vez.


Apenas mais palavras.
Uma espécie de infinito tornado cúmplice,
noite,  penumbra escondendo os outros,
suas dores, mágoas, medos, monstros,
e escondendo-me de quase todos eles,
dando-me o tempo de ainda mais um poema,
jamais singular e  jamais definitivo
como desejaria que fosse.
Mas Jamais apenas  um poema feito de luz,
maior que apenas um monólogo incontido
mostrando-se além da prudência
que o tempo trouxe ...
E,  inevitavelmente,
jamais apenas  algo que me colocasse
além das simples palavras.
Monólogos no meio do túnel.

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domingo, 22 de maio de 2011

31 - ENTREVISTANDO JOÃO DE SOUSA TEIXEIRA - FINAL




Por entre textos e comentários, imagino já esteja mais ou menos bem delineada uma imagem do meu convidado. E foi isso que objetivei fazer, não através duma entrevista comum, convencional, mas sim através de uma exposição parcial, calculadamente lenta, que ocorresse aos poucos e de uma forma que permitisse a quem lesse sentir melhor quem é o meu convidado, além e aquém da sua obra.

Ainda nesta perspectiva e como último contributo, agrego a carta que me escreveu , e que contém em si mesma pequenas histórias inéditas, a respeito do seu relacionamento com alguns dos escritores portugueses mais relevantes, alguns dos quais tive a oportunidade de conhecer e admirar pessoalmente. Mais do que isso, é um pequeno retrato de uma época, que seria encantadora se não fosse dramáticamente ensombrada pela ditadura. Agrego igualmente fotocópia do ultimo fax trocado com Saramago, cumprimentando-o pelo Nobel.

Aqui fica a reprodução da carta, e, junto com ela, o meu imenso obrigado ao João:


"Se bem entendo, o Henrique quer que lhe fale da minha vida, como dizia o outro, já que as notícias sobre a minha morte foram um pouco exageradas…
...
Em 1973, o Jornal do Fundão organizou um evento a que chamou, salvo erro, Encontro de Teatro. O objectivo era romper o bloqueio cultural em que vivíamos naquela época. Além do fórum propriamente dito, sediado no Fundão, havia os convidados ilustres que rapidamente se deslocavam até Castelo Branco, no intuito de prolongarem o espaço de convívio e de tertúlia.

José Saramago, Alexandre Babo, Jaime Gralheiro, Bernardo Santareno, Isabel da Nobrega, foram alguns dos autores que durante dias circularam pela nossa terra.

Eu tinha editado o meu primeiro livro de poemas (Ro(s)tos do Meu País), que era um livrito de vinte e poucos poemas, mas muito bem cuidado graficamente pelo meu amigo Ambrósio Ferreira. E tão recente tinha sido a edição que ainda constava nos escaparates das livrarias e, em exclusividade, em duas montras das duas principais livrarias da cidade.

À noite, depois do emprego, lá ia eu ter com aquela gente maravilhosa…

Uma tarde, passeava com o Bernardo Santareno e, levei-o junto à montra da já extinta livraria Elias Garcia e apontei-lhe a minha “obra” exposta e decorada com uma enorme jarra de rosas vermelhas… O Dramaturgo olhou, olhou, recolocou aqueles enormes óculos que tinha e, por fim, colocou-me a mão no ombro, dizendo em jeito de confidência: - Falta aqui uma coisa, João…

Eu, muito atrapalhado, pois se para mim a montra estava tão bonita e … tão completa… Então ele esclareceu: - Falta aqui a tua fotografia, e esclareceu: - As pessoas passam, olham, vêem a obra e depois perguntam: quem será o autor? Se lá estivesse a tua fotografia já não fariam tal pergunta e imediatamente associavam as coisas. Isso é muito importante, concluiu.

Ficamos amigos até à sua morte.

Na pastelaria, em mesa redonda, falava-se do Encontro do Fundão, das coisas da política, dos jornais, enfim, de tudo um pouco. José Saramago, a dado momento pediu a todos um minuto de atenção e disse: - temos connosco um jovem poeta, aqui nascido, que acabou de editar um livro de poemas com muito interesse. Corei. Parecia que o chão se afundava… Mas todos os presentes quiseram comprar o “célebre livro”, que então custava doze escudos e cinquenta centavos.

Quando por fim terminou a sua permanência em Castelo Branco, pedi ao Saramago o favor de me vender os Ro(s)tos do Meu País em Lisboa, pedido que prontamente aceitou. Por duas vezes fui ter com ele à redacção do Diário de Lisboa recolher os proventos das suas/minhas vendas, que ele registava com todo o pormemor.

Acompanhei-o durante alguns anos, trocamos correspondência, telefonámos, até que ele foi para Lanzarote.

Depois disso, apenas lhe mandei um fax de parabéns pelo prémio Nobel, mas nunca mais nos encontrámos.Havia uma galáxia entre nós…

Abraço
João

Nota
Agora faça lá o resto das perguntas…

sexta-feira, 13 de maio de 2011

30 - RETOMANDO OS TRABALHOS APÓS LONGA PAUSA

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Queria  que fosse em perguntas, meu amigo, o enunciado desse momento mágico. E que as respostas a elas nos trouxessem em vívida transparência a clareza do seu espírito atento de alma sensível e poética, capaz de produzir textos de extrema beleza.
Queria que o meu talento como entrevistador fosse capaz de apanhar os momentos mais significantes dos seus mais significativos episódios, das suas características mais  peculiares que mais o revelassem – talvez retratassem.
Queria que as suas amizades antigas significassem por si mesmas algo assim como um caminho, um histórico de vida que falasse do indivíduo muito além das suas preferências, e das suas escolhas.
Creio que ao invés de tudo isto, apenas estou conseguindo mostrar o João homem comum, dotado de uma notável capacidade para a escrita, como todos os seus livros, e os seus textos aqui apresentados demonstram claramente.
Por outro lado, não é disso que se trata, num site sobre poetas ? A tradução de tudo o que foi publicado trará por certo um maior interesse sobre a entrevista propriamente dita, o que revelará se o estilo leve  e não demasiado convencional que escolhi para ela serve bem aos propósitos que visei atingir.
Esperemos que sim.
A terceira parte, em todos os casos, encerrará a entrevista em coerência com a linha iniciada anteriormente, sem pretender ser exaustiva.
Um abraço, João.

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domingo, 17 de abril de 2011

29 - ENTREVISTANDO JOÃO SOUSA TEIXEIRA ( 2a PARTE )



1-      No primeiro bloco da entrevista, você falou sobre dois livros, ainda não publicados, sobre os quais ainda não estava decidido a fazer divulgação. “Prova de vida”  é um deles ?
O que quis dizer foi que não os apresentei a nenhuma editora, divulgar, vou divulgando… É “Prova de Vida”, sim. O outro original irá chamar-se Possibilidade de Aguaceiros e, lá para 2012, nova ficção com Súbita Floresta.

2-      ”Prova de vida” é uma expressão que faz lembrar de alguma forma a previdência social, a necessidade que o idoso tem de provar que existe.Foi a intenção que presidiu á escolha do nome ?
Essa é para me apanhar.  Os títulos são o que são: normalmente, são uma espécie de chamariz. Ora porque entra bem no ouvido, ora porque é sugestivo ou mesmo inusitado. No caso, tem a ver com o facto de ter escrito um conjunto de textos sobre as memórias de infância (as pequenas coisas que lembram depois na fase adulta) e, logo a seguir, outros sobre momentos importantes da minha vida, como o serviço militar, a intervenção social e cívica, o amor, os filhos, etc. Esta mistura deu o título. Na realidade, como diria Neruda, “confesso que vivi”…


3-      Um dos seus textos, aliás formidável, fala da guerra ao longe: “A guerra”, onde os nossos não morriam nunca.  Fala disso como dum tempo transitório, passado o qual, a vida voltaria á normalidade e tudo retomaria o curso monótono dos dias. ( De alguma forma, isso recorda-me aquelas imagens dos soldados gravando mensagens para a família: “adeus e até ao meu regresso”, fórmulas que alguém encontrava e que se radicavam e passavam  a ser usadas por todos, posturas iguais frente ás câmeras, enfim, estereótipos adotados e disseminados por todos.)É dessa guerra que nos fala ?
Embora essa tenha sido a guerra que vivi do lado de cá (a “minha guerra” já foi a da transição da soberania para os povos das ex-colónias e da liberdade para ambos) o quadro que apresento é justamente o do cinzentismo da ditadura, que enviava os cidadãos armados e para longe, incutindo-lhes que a pátria assim o exigia. Essa guerra foi o dia-a-dia dos portugueses durante quase duas décadas… A propaganda oficial suportava tudo isto com a ideia peregrina de que nós não morríamos nunca, tal como os heróis nos western norte americanos.

4-      Como foi Cabo Verde, do ponto de vista literário?
Naquela altura 74/75 coincidiu a minha disponibilidade total com a chegada a Cabo Verde dos seus filhos no exílio. Por outro lado, a liberdade trouxe convívio, manifestação cultural. Fundou-se o Novo Jornal, o No pincha, jornal do PAIGC, passou a ter circulação legal, a rádio teve uma lufada de ar fresco… Enfim, foram abertos os portões do Tarrafal. Entretanto, os escritores e poetas da diáspora juntavam-se em tertúlia, à tarde, na Pracinha. Recordo algumas conversas com Ovídio Martins , poeta e jornalista, a quem a PIDE (polícia política) torturou ao ponto de ter ficado quase completamente surdo. Quanto ao resto, era a azáfama semanal com o jornal e a produção poética, que na altura foi bastante profícua.

5-      Claramente, João, há uma maturidade especial nos seus textos deste livro.  Sente isso, ou é suposto serem os outros a sentir ?
Se esse sentimento for comum, tanto melhor. Pessoalmente, tenho consciência dessa maturidade literária e quero partilhá-la. Se os meus leitores ficarem satisfeitos com a sua leitura, eu ficarei também.

terça-feira, 12 de abril de 2011

28 - ENTREVISTANDO JOÃO DE SOUSA TEIXEIRA


Olá João.
Antes de mais,  obrigado por concordar em  deixar-me entrevistá-lo.
(Estas são as primeiras perguntas, que visam  mais ou menos apresenta-lo apesar de os seus textos praticamente falarem por si. Então, a minha preocupação maior é colher de si algumas opiniões, mais do que pô-lo a falar sobre si mesmo. Depois que me responder a estas, farei outras, e quando me responder a essas, farei as ultimas. Dos três blocos, reunidos e misturados, levedados e não sei-que-mais-ados, deve acabar por sair algo parecido a uma entrevista, sem o ter invadido muito. Se algo lhe desagradar por favor queixe-se, que mudamos facilmente sem chegar a publicar. Isto é para ser-nos agradável a todos. Certo ? )
Escolherei alguns textos que me toquem particularmente, dos que me facultou, e agradeço a confiança com que o fez. Cá vamos então:


1- Sei  que falar de si mesmo não é das coisas que mais gosta de fazer,  não é verdade?  Antes de entrarmos  na entrevista propriamente dita, posso perguntar porquê?
- Partilho da ideia daqueles que entendem que ninguém é bom juiz em causa própria; se alguém tiver de julgar, que não seja o próprio. Admito, no entanto, que me causa constrangimento falar na primeira pessoa. É modo de ser.

2- Sabe que o seu signo mudou agora há poucos dias, e não é mais aquele signo famoso por produzir escritores,  escultores, enfim, gente ligada ás artes ? (  Juro...não é não ! Agora, meu caro, o seu signo é gémeos.  O meu também. Fomos despromovidos, eu acho....)
- Gémeos, eu? E agora, como vou arranjar dinheiro para sustentar duas criaturas?!...

3- Acredita nisso - na influência dos signos na sua vida? Ou a pergunta é, talvez, demasiado leviana... (Vai ser muito lacónico a este respeito ?)
Com efeito, ser caranguejo ou outra coisa qualquer, para mim é igual. Evito ser besta, mas esse não faz parte do Zodíaco.

4- Deixe-me reformular a pergunta, João: - O poeta nasce pronto ? Ou um dia descobre-se poeta e depois aperfeiçoa-se?
- Nasce-se pequenino (embora a minha mãe não tivesse achado graça aos meus pueris cinco quilogramas…) e depois há o mundo, as circunstâncias, os gostos e a correnteza da vida. Foi assim que me fiz poeta. Julgo que o gosto por histórias e, sobretudo, de construir sensações com palavras, foi o mote certo. O aperfeiçoamento é a prova disso: há poemas que brotam e outros que conhecem mais versões do que versos propriamente ditos…

5- Autoproclama-se,  ou  é  proclamado ? São os outros quem cria o poeta?
- Como comecei a escrever muito cedo (quinze anos, por aí) desde há muito que amigos e conhecidos me colam esse epíteto. Creio que sempre com as melhores intenções. Às vezes, chamam-me mesmo “o poeta”, mas isso tem a ver com o início precoce, como referi.

6 – Há uma linha da poesia, na palma da mão ?  Caminhos marcados pelo destino?
- Penso que não há ninguém, seriamente, que diga  agora vou ser um “ista” qualquer. E na palma da mão muito menos. Nesse capítulo, o que posso responder é que só escrevo na mão quando não tenho papel… Mas não deixo de dizer que fiquei muito surpreendido quando soube de um crítica de Fernanda Botelho, vinte anos depois do meu livro Alegria Incompleta, em que esta superior escritora crítica literária, infelizmente já falecida, apelidava a minha poesia como sendo do “coisismo”.

7- Gosta de fado ? Crê que existe esse compromisso entre as escolhas e o inevitável, que o cancioneiro popular transformou no nosso fado, além de tudo o mais que os entendidos dizem que ele é ?
Gosto de fado, sim. Não creio no fatalismo. O fado hoje tem caminhos mais sadios, sem deixar de se identificar com o sentir português. O fado da desgraçadinha já não cola.

8- Lembra-se quando falaram de si como poeta, a primeira vez ? Como nome ligado á cultura, e a uma atividade especifica – a da escrita ?
- A primeira, primeira, não me lembra. O que me lembro é que muito cedo os jornais da região, nas críticas habituais aos meus livros, começaram a falar daquele jovem poeta e tal… Isto nos idos de 70 do século passado. Mas tive sempre críticas generosas (eram meus amigos…). As críticas más nunca foram publicadas ou então não as li.
Porém, o acolhimento de três editoras (Vega, Campo das Letras e RVJ), o patrocínio de municípios (o meu e aquele onde resido), o prémio da APE e respectivo apoio da Gulbenkian, entre outros, são motivo de orgulho e incentivo para continuar. Aliás, tenho dois livros de poemas inéditos e ainda não me decidi mostrá-los.

9 – Lê muita poesia ? Favoritos ?
-Leio toda a poesia e toda a ficção e até tudo o que às vezes não deveria ter lido. É compulsivo… Poetas favoritos: Gomes Ferreira, Vinicius,  Neruda, Alexandre O’Neil, Cesário Verde, Paul Elurd, Cecília Meireles, João Cabral de Melo Neto, Pessoa, Torga e Sofia de Melo Brayner, Lorca, Ginesberg, Daniel Filipe, entre muitos, muitos, muitos outros.

10- Diz-se que o Humor é o género literário que mais depende da colaboração do leitor. Concorda?
-Pois. Mas se não estiver deste lado, meu amigo. Eu ponho humor em tudo o que escrevo e faço. Não é para combater aquele fatalismo que diz que tristezas não pagam dívidas; é porque sou mesmo assim. Mas concordo que o leitor necessita de apanhar o fio para entender quando as lágrimas do autor são apenas cloreto



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 sódio…